Se em 2011 a minha participação nesta mítica prova seria para conhecer por dentro toda a logistica e realização de um sonho que é a MDS e acabei por ir mais além, este ano encarava este desafio com um carácter ainda mais competitivo, fazer melhor que no ano passado, fazer sempre melhor é isso que nos move e está sempre presente todos os dias, todos os treinos, crescer não só como atletas mas como pessoas e estas provas dão-nos grandes lições de humildade.
Se tinha essa ambição de fazer melhor não me passava pela cabeça discutir até aos últimos metros por um lugar no pódio, estava a fazer uma preparação excelente e apresentei-me um mês antes em Condeixa em muito boa forma numa altura que começava a meter carga, a partir daqui era sempre a subir, só que por vezes as coisas não são como esperamos e uma dor cada vez mais forte no pé direito obriga-me a parar, a Drª Maria Cunha faz-me uma sessão de mesoterapia, não passa e faço um RX para eliminar a hipótese de fractura, felizmente nada de grave só uma tendinite no pior sitio metatarso do pé direito, a receita era anti-flamatórios, fisioterapia na clínica Fisivida e descanso.
Mas descanso era algo impossível a 3 semanas da partida para uma das provas mais exigentes do planeta para quem a pensa fazer de uma forma competitiva, já tinha perdido uma semana e resolvemos eu e o Prof. Paulo Pires adaptar o treino para não perder a base cardiovascular, a solução foi ginásio, bicicleta estática e elíptica e sessões de fisioterapia na Fisivida.
Duas semanas depois nova avaliação desta feita pelo Dr. António e decidimos recomeçar a correr para ver a reacção da lesão, estava-mos na ultima semana de preparação e o desanimo era grande uma autentica corrida contra o relógio, ainda com dor mas suportável acabo o final da semana em mais um estágio na Serra da Estrela com alguns testes e vejo que realmente não tinha perdido a base aerobía o que me deu alguma margem de confiança, a minha grande dúvida era quando mete-se 9 quilos às costas como iria reagir o corpo à falta desse treino.
Feita a mochila e no meio de muitas incertezas dia 4 partimos ao fim da tarde (eu, Telmo e Susana) via Madrid de carro uma vez que na volta não tínhamos ligação e teríamos que ficar mais um dia em Madrid, a viagem faz-se bem e no dia seguinte ainda fizemos um treininho nos arredores do aeroporto de Barajas antes de nos juntarmos à restante comitiva Espanhola e América Latina.
Chegados a Ouarzazate já noite dentro fomos para o hotel repor as energias e descansar, no dia seguinte esperava-nos uma longa viagem de autocarro e camiões militares até ao primeiro acampamento, ou seja até à nossa casa nos próximos 10 dias.
A viagem não me era estranha tinha feito o mesmo percurso no ano anterior mas é sempre bom sermos brindados com paisagens lindíssimas ao atravessar a cordilheira do Atlas, de seguida surge aldeias nas gargantas de antigos rios provavelmente por ser o único local onde se consegue arranjar alguma água quando chove, é impressionante como estes povos vão sobrevivendo e resistindo ao agravar das condições Naturais.
Uma paragem para lanchar e logo aparece uma dúzia de crianças na tentativa desesperada de lhes oferecer-mos alguma coisa diferente da sua dieta habitual que não consigo imaginar qual seja tal é a pobreza envolvente.
Chegado ao acampamento a organização oferece-nos um rico repasto e são horas de descansar.
No dia seguinte é dia de mostrar todo o material e testes médicos assim como fazer os últimos preparativos e entregar a nossa mala de viagem para o final da prova, a partir daqui só contamos com a nossa mochila e material a transportar por toda a semana seguinte portanto nada poderá ser esquecido.
Neste mesmo dia começa um ritual comum para o resto da semana, levantar uma garrafa de agua até às 7 horas sobre pena de levar-mos uma hora de penalização.
A noite foi mal dormida, a cama era estranha e o receio habitual de sermos visitados por repteis inesperados, como já tinha levado com a recruta no ano anterior não à nada a fazer é descansar e esperar que não nos saia na rifa tal má sorte.
A caminho de levantar a agua a curiosidade de outros colegas chama-me à atenção, acabavam de matar uma dessas visitas ao acampamento, o cheio a comida atrai os répteis, ao que parece a organização deita um produto em redor do acampamento para afastar os mesmos mas mesmo assim.....
O resto do dia foi passado a testar as mochilas numa curta corrida pelas dunas, fazer uns clips de vídeo para a posterioridade e a comer decentemente pela última vez, refeições essas cedidas pela organização muito bem confeccionadas.
Continuação
Se tinha essa ambição de fazer melhor não me passava pela cabeça discutir até aos últimos metros por um lugar no pódio, estava a fazer uma preparação excelente e apresentei-me um mês antes em Condeixa em muito boa forma numa altura que começava a meter carga, a partir daqui era sempre a subir, só que por vezes as coisas não são como esperamos e uma dor cada vez mais forte no pé direito obriga-me a parar, a Drª Maria Cunha faz-me uma sessão de mesoterapia, não passa e faço um RX para eliminar a hipótese de fractura, felizmente nada de grave só uma tendinite no pior sitio metatarso do pé direito, a receita era anti-flamatórios, fisioterapia na clínica Fisivida e descanso.
Mas descanso era algo impossível a 3 semanas da partida para uma das provas mais exigentes do planeta para quem a pensa fazer de uma forma competitiva, já tinha perdido uma semana e resolvemos eu e o Prof. Paulo Pires adaptar o treino para não perder a base cardiovascular, a solução foi ginásio, bicicleta estática e elíptica e sessões de fisioterapia na Fisivida.
Duas semanas depois nova avaliação desta feita pelo Dr. António e decidimos recomeçar a correr para ver a reacção da lesão, estava-mos na ultima semana de preparação e o desanimo era grande uma autentica corrida contra o relógio, ainda com dor mas suportável acabo o final da semana em mais um estágio na Serra da Estrela com alguns testes e vejo que realmente não tinha perdido a base aerobía o que me deu alguma margem de confiança, a minha grande dúvida era quando mete-se 9 quilos às costas como iria reagir o corpo à falta desse treino.
Feita a mochila e no meio de muitas incertezas dia 4 partimos ao fim da tarde (eu, Telmo e Susana) via Madrid de carro uma vez que na volta não tínhamos ligação e teríamos que ficar mais um dia em Madrid, a viagem faz-se bem e no dia seguinte ainda fizemos um treininho nos arredores do aeroporto de Barajas antes de nos juntarmos à restante comitiva Espanhola e América Latina.
Chegados a Ouarzazate já noite dentro fomos para o hotel repor as energias e descansar, no dia seguinte esperava-nos uma longa viagem de autocarro e camiões militares até ao primeiro acampamento, ou seja até à nossa casa nos próximos 10 dias.
A viagem não me era estranha tinha feito o mesmo percurso no ano anterior mas é sempre bom sermos brindados com paisagens lindíssimas ao atravessar a cordilheira do Atlas, de seguida surge aldeias nas gargantas de antigos rios provavelmente por ser o único local onde se consegue arranjar alguma água quando chove, é impressionante como estes povos vão sobrevivendo e resistindo ao agravar das condições Naturais.
Uma paragem para lanchar e logo aparece uma dúzia de crianças na tentativa desesperada de lhes oferecer-mos alguma coisa diferente da sua dieta habitual que não consigo imaginar qual seja tal é a pobreza envolvente.
Chegado ao acampamento a organização oferece-nos um rico repasto e são horas de descansar.
No dia seguinte é dia de mostrar todo o material e testes médicos assim como fazer os últimos preparativos e entregar a nossa mala de viagem para o final da prova, a partir daqui só contamos com a nossa mochila e material a transportar por toda a semana seguinte portanto nada poderá ser esquecido.
Neste mesmo dia começa um ritual comum para o resto da semana, levantar uma garrafa de agua até às 7 horas sobre pena de levar-mos uma hora de penalização.
A noite foi mal dormida, a cama era estranha e o receio habitual de sermos visitados por repteis inesperados, como já tinha levado com a recruta no ano anterior não à nada a fazer é descansar e esperar que não nos saia na rifa tal má sorte.
A caminho de levantar a agua a curiosidade de outros colegas chama-me à atenção, acabavam de matar uma dessas visitas ao acampamento, o cheio a comida atrai os répteis, ao que parece a organização deita um produto em redor do acampamento para afastar os mesmos mas mesmo assim.....
O resto do dia foi passado a testar as mochilas numa curta corrida pelas dunas, fazer uns clips de vídeo para a posterioridade e a comer decentemente pela última vez, refeições essas cedidas pela organização muito bem confeccionadas.
Continuação
08/04/2012
AMM0UGUER – OUED EL AATCHANA 34 km
Eis que
chega o grande dia, a ansiedade é enorme são dias e dias à espera deste
momento, para muitos é o começar de um sonho que vão interiorizando durante
anos, não podemos esquecer que esta prova custa à volta de 3.800€ e muitos dos
participantes fazem grandes sacrifícios para ali estar, sabem que é uma
oportunidade quase irrepetível, eu próprio senti isso no ano passado, dai levar
uma máquina de filmar e tirar o máximo de partido desta aventura para guardar
algumas imagens para sempre recordar.
Felizmente
há marcas como a Berg que apoiam o desporto e tive a felicidade de lá voltar,
reviver o sonho e poder mais uma vez testar os meus limites, quando estava com
grandes dificuldades pensava em muitas coisas, família, amigos, mensagens de
apoio, etc. mas aqueles que me apoiaram e confiaram em mim para poder ali estar
de novo estavam sempre presente, isso ajuda-nos a ir mais além.
A rotina
começa e será sempre a mesma nos próximos sete dias, acordar às 5:30h da manhã,
os haimeiros (Marroquinos que todos os dias desmontam e montam as haimas “tendas”)
começam o seu trabalho às 6h, até às 7h temos que recolher uma garrafa de água
e fazer o “bem elaborado” pequeno-almoço, um Muesli que ao fim de dois dias já
estamos fartos.
Às 8:00h temos que estar todos atrás do
pórtico de partida, mas antes um ritual nas primeiras etapas de cada ano formar
o número da edição neste caso o 27 para que os fotógrafos saquem uma boa
fotografia, começa a habitual música dos AC/DC e a adrenalina e ansiedade
acumulada começa a ser insuportável o relógio anda muito devagar, os Franceses
(Patrick diretor da prova) são muito chatos, não param de dar informações e
fazer agradecimentos até que começa a contagem decrescente 60 segundos ….., os
helicópteros estão a postos para fazerem grandes imagens, é brutal como brinca
o pilotos com aquela grande máquina.
É dada a
partida e eu estou bem colocado, sei que muita gente faz esta primeira etapa
como se trata-se de uma única etapa pois não conseguem-se controlar tal é a
ansiedade, outros porque não tem qualquer experiência de provas por etapas e as
palavras “gestão de esforço” não existem no seu vocabulário.
Não fazia
ideia como o meu corpo iria reagir a este primeiro esforço, o facto de não ter
feito um único treino com mochila e só feito treino de corrida na última semana
poderia causar desgaste adicional ou mesmo agravar a lesão que estava
praticamente a ficar resolvida, mas começo forte e com facilidade vou
aguentando o ritmo de um segundo grupo, até que a etapa entra em zonas algo
técnicas, algumas subidas e muita pedra à mistura ai noto que ganho terreno aos
colegas que vão comigo, por volta dos 25km’s estava isolado em 4º e fiz um
forcing final para consolidar essa posição.
Estaria eu a
cometer um erro? Por um lado começar forte dava-me força anímica por outro lado
poderia acumular desgaste que poderia comprometer as etapas seguinte, mas
estava feliz e isso era o mais importante pois nunca sabemos o que nos reserva.
09/04/2012
OUED EL AATCHANA – TAOURIRT MOUCHANNE 38’5 Km
Outra manhã e a rotina de sempre, era importante não deixar passar a hora de levantar a água para não levar-mos uma hora de penalização, novamente a música dos AC/DC anima-nos e é dada a partida.
Outra manhã e a rotina de sempre, era importante não deixar passar a hora de levantar a água para não levar-mos uma hora de penalização, novamente a música dos AC/DC anima-nos e é dada a partida.
No meio de
tantas condicionantes e incertezas o grande objectivo era mesmo chegar ao fim,
pois quem o faz já se pode dar por realizado e desistir ou ser obrigado a isso
é algo que felizmente nunca se passou comigo, mesmo sabendo que esse dia pode
chegar uma vez que quem faz estas brutalidades está sujeito a isso, mas a
esperança de melhorar o resultado do ano anterior estava na minha cabeça, fazer
melhor que 24h, melhor que 8º da geral e melhor que 3º não Africano.
A
concorrência vinha de África mas esses não me preocupavam uma vez que são de
outro campeonato e este ano estavam em maior número, tinha o Francês que foi o
melhor não Africano no ano anterior e outros que poderiam surpreender, um
Esloveno, um Espanhol que vive em Ceuta, um Japonês, Americanos, Russos,……..
mas se já estava na frente começo a interiorizar a estratégia cada dia ia dar
tudo para ser o melhor não Africano, só que as pernas começam a ficar pesadas a
meio desta 2ª etapa e os músculos algo tensos, eram os primeiros sinais da
falta de treino com carga, aproximam-se dois Italianos que estão a fazer a
prova sempre juntos e vejo que tenho ali grandes adversários, mas não podia
mostrar fraqueza e com esforço fui com eles até ao fim. Estavam lançados os
dados para uma grande prova, até quando iria resistir a esta dupla bem
aconselha pelo grande mestre de tenda Marco Olmo que participa pela 17ª vez e
toda a outra armada.
10/04/2012
TAOURIRT MOUCHANNE – EL MAHARCH 35 Km
Nesta 3ª etapa sabia que não poderia desgastar-me muito e tentar poupar-me um pouco se possível para a grande etapa de 82km’s do dia seguinte, mas também não podia perder grande tempo para a concorrência e resulta em mais uma etapa de prego a fundo para não ver a cabeça de corrida a distanciar-se demasiado, tinha pensado com o Paulo tentar fazer média de 11km/h e sabia que se mantivesse esta média tinha grandes hipóteses de terminar no Top 8 uma vez que no ano anterior tinha feito 10,44km/h, mas estava todos os dias a fazer médias bem acima de 12km/h, para quem corre naquelas condições com muito peso às costas é brutal.
Nesta 3ª etapa sabia que não poderia desgastar-me muito e tentar poupar-me um pouco se possível para a grande etapa de 82km’s do dia seguinte, mas também não podia perder grande tempo para a concorrência e resulta em mais uma etapa de prego a fundo para não ver a cabeça de corrida a distanciar-se demasiado, tinha pensado com o Paulo tentar fazer média de 11km/h e sabia que se mantivesse esta média tinha grandes hipóteses de terminar no Top 8 uma vez que no ano anterior tinha feito 10,44km/h, mas estava todos os dias a fazer médias bem acima de 12km/h, para quem corre naquelas condições com muito peso às costas é brutal.
Termino
muito bem colocado e à frente de muitos Marroquinos o que não estava à espera
nesta altura, o Telmo e a Susana continuam muito bem e sempre bem dispostos,
nem o mau tempo e a falta de calor tórrido que a Susana tanto ansiava alterava
o seu estado de espirito.
No final
desta etapa e já a descansar chega a nossa vizinha Espanhola que era sempre a
primeira da tenda a chegar e começa aos gritos: escorpião, escorpião,… logo foi
um outro colega matar o temido animal que nos tira o sono, tal momento teve
direito a reportagem fotográfica, era pequeno e fiquei apreensivo porque os pais
deveriam andar por perto.
11/04/2012
EL MAHARCH – JEBEL EL MRAÏER 81’5 Km
Chega a
etapa rainha, correr o equivalente a duas maratonas nestas condições é sempre
um grande desafio mesmo para quem como eu que faz 170km’s numa só etapa, os
primeiros 50 da geral partem mais
tarde é nos
dito que às 12h, e à hora do costume 8h lá partiu o resto do grupo em que a
Susana estava inserida.
Eu e o Telmo
estávamos a descansar ao máximo, e decidimos fazer uma massa liofilizada por
volta das 11h, só que a fogueira está difícil de fazer e quando temos água
quente disponível são já 11:20h até que começo a ver toda a gente a por as
mochilas às costas e nós ali descontraídos sem estar equipados e com o material todo
espalhado, começamos a comer a massa até que o Telmo pergunta porquê estavam
com tanta pressa para por as mochilas às costas (faltam sete minutos para a
partida diz o outro atleta), foi o stress total, começar a vestir e arrumar a
mochila a massa foi engolida e alguma ainda para o lixo, na etapa anterior já
andava enjoado de comer sempre as mesmas coisas e as barras já se comiam com
muito sacrifício.
Começa a
etapa e vou novamente no segundo grupo ao lado do Aziz o Marroquino que acabou
por ser terceiro da geral, os primeiros km’s são em dunas e de seguida uma
parte técnica com um canal subida a um monte que nos presenteia com uma descida
de +/- 300m de desnível talvez com uma inclinação de mais de 40%, brutal mesmo
nunca tinha feito nada assim a não ser no alpinismo, segue-se um abastecimento
e continuo-o com o Aziz, o meu estômago e intestino parecia uma máquina de
lavar uma água tipo azia vem constantemente à boca, vou metendo energia mas as
barras dão-me vómitos, opto por comer só geles injectando na boca e de seguida
bebendo bastante água para não ficar com aquele gosto que começa a ser
insuportável.
O Aziz
parecia ir em esforço tal como eu e diz-me estamos ao mesmo ritmo vamos juntos,
eu disse ok, pensei logo que realmente ele não estava bem tal como eu, até que
começamos a perder ritmo claramente estamos a caminho dos 40km e com muito
esforço vou evitando uma paragem para ir à casa de banho para não perder o
comboio, até que os Italianos e o Francês nos alcançam com ritmo muito forte,
não posso mais e tenho que parar, diarreia uiii isto está mesmo mau penso eu,
começo a correr mais aliviado mas novamente começam as cólicas, tento meter
energia mas só o gel entra com água à pressão e vómitos à mistura que vou
resistindo.
Estava mesmo
a passar uma má fase e sabia que começava um longo sofrimento até ao fim, ia
ingerindo uma pastilha de sódio a cada hora mas não estava a perceber o que me
estava a acontecer e nem o que fazer, é incrível o sentido de impotência que
temos para gerir isto, vou partilhando a água estava a fazer tudo o que devia
mesmo assim o organismo já não estava a suportar a dieta débil a que estamos
sujeitos com todos os dias a elevar o corpo aos seus limites, já na viagem para
Madrid tive que ingerir um antidiarreico era um sinal a acrescentar preocupação
mas que nas três primeiras etapas parecia estar resolvido.
Nova paragem
técnica e começo a ficar deveras preocupado a evacuar desta forma ia desidratar
por completo, estamos pouco depois dos 50km’s e vou perdendo ritmo começa a
passar-me alguns colegas e fico impotente, sem força já nem géis suportava
dava-me vómitos, opto por tentar beber mais e sempre bem pastilha-da mas o estômago começa a ficar inchado como pedra, recordo uma passagem em que vou a
lutar sozinho contra tudo isto e ao olhar para o chão vejo uma enorme chave
tipo daquelas portas de madeira muito antigas e é incrível que o que me bem à
cabeça foi logo (eis a chave para abrir as portas do inferno) não sei como isto
me passou pela cabeça mas fiquei com aquilo na cabeça e a cismar como ela lá
foi parar, no meio do nada deve estar á longos anos perdida.
Esta etapa
tinha +/- metade do percurso com dunas o que ainda desgastava mais, não fosse
já os problemas físicos a chatear entra-me arreia para as sapatilhas
constantemente e sou obrigado a parar também para tirar areia, lá chego ao
controle dos 60km’s e passo por o colega de tenda (Fernando das Astúrias) que
me anima e eu respondo (estou morto, já não dá mais), mas sempre a correr ele
fica para traz e começa a cair a noite, começo a interiorizar uma ideia, vão
ser os 20km’s mais duros da minha vida mas vou conseguir e quanto mais rápido
acabar isto melhor.
O terreno
começa a ser favorável acaba a areia e abro a passada tento hidratar e já nem
tento comer para não virar o barco, vou ingerindo uma pastilha de sal a cada
hora, até que encontro o Aziz a passo, puxo por ele tentando animar-lho ele
correr uns metros e acena com a cabeça estava esgotado de tal forma que nem
correr já conseguia, tinha seguido com os Italianos e Francês a grande ritmo,
nesta altura deviam estar eles a chegar à meta pensei eu tal foi o fulgor que
nos passaram.
Já noite
serrada continuo-o a lutar a grande ritmo, isto não era nada novo para mim e
sei que vou buscar forças a onde não as tenho e sofrer para mim não é problema
desde que me sinta consciente, portanto lúcido e com pleno controlo do meu
corpo.
Começo a ver
a luz bem longe do acampamento e isso anima-me mas no ano passado tinha sido
enganado ao pensar que estava a chegar e 40min depois ainda estava a correr e a
maldita luz parecia afastar-se cada vez mais, com esta experiência pensei logo
vou tentar chegar lá em 45min, estava com 7:30h e igualava o tempo do ano
passado 8:15h, foram minutos que pareciam horas a correr noite escura com muito
vento no meio de terreno com alguma areia e muita vegetação até que se
atravessa um escorpião no meu caminho quase o calcava quando ele fugia.
Chego à meta
completamente de rastos em 8:13h, lá estava a Susana aos pulos e a equipa de
reportagem que me tenta fazer uma entrevista mas eu não consigo falar, dou um
abraço à Susana e tento dar umas palavras à equipa de reportagem, começa a
cabeça a andar à roda e vou para uma zona de descanso onde estava o Japonês
muito satisfeito a mostrar o material obrigatório, a Susana tenta ajudar-me
pouso a água e a mochila e começo a virar o barco constantemente, uma
assistente da organização mostra-se preocupada e eu mostro calma aparente mas
estava mesmo preocupado, estava a ficar num estado de desidratação preocupante,
tento explicar isto à Susana e a Srª da organização pede à Susana para me
manter debaixo de olho e chamar caso ache necessário.
Começo a
sentir frio e vou para a nossa tenda, o corpo estava completamente debilitado e
sem conseguir produzir calor ou energia, meti-me dentro do saco cama e pouco
depois chega o Telmo cansado mas feliz por terminar mais esta grande etapa,
conto-lhe como estou e mostro a minha preocupação, não conseguia comer e beber
só um gole de vez em quando e com esforço, digo-lhe que o melhor era pedir soro
à organização, ele lembra-me que isso resulta numa grande penalização em horas
não sei se duas ou três e que o melhor seria esperar para de manhã e reavaliar.
Concordo com
ele, estava muito frio e não podia sair do saco cama mas dormir era algo que
não conseguia, a preocupação era grande e a constante chegada de outros colegas
não deixavam, a Susana dá-me uns flocos de cereais para eu tentar comer, era
algo diferente do que eu tinha e isso podia não me enjoar para além de ser seco
e ajudar a combater a diarreia, já tinha tomado dois anti-diarreicos e lá meti
um punhado de cereais, foi uma longa noite, um autentico pesadelo que se
agravava cada vez mais com uma tempestade a mostrar a sua fúria.
12/04/2012
DIA DE DESCANSO
Este que devia ser o dia de descanso e recuperação para os mais rápidos uma vez que muita gente continua a chegar durante a manhã e meio da tarde, foi um dia de grande Stress a tempestade acentua-se cada vez mais, olho para o lado e os colegas de tenda estão todos deitados dentro dos sacos cama a imagem é incrível só se vê areia por todo lado a cara deles coberta de areia a impotência era tal que já se suportava tudo, só nos restava que a mãe Natureza invertesse este cenário, mas uma grande descarga de granizo põe-nos ainda mais nervosos e apreensivos, vou comentando com o Telmo isto vai ter que ser cancelado já assim tinha sido há três anos atrás por razões idênticas.
Este que devia ser o dia de descanso e recuperação para os mais rápidos uma vez que muita gente continua a chegar durante a manhã e meio da tarde, foi um dia de grande Stress a tempestade acentua-se cada vez mais, olho para o lado e os colegas de tenda estão todos deitados dentro dos sacos cama a imagem é incrível só se vê areia por todo lado a cara deles coberta de areia a impotência era tal que já se suportava tudo, só nos restava que a mãe Natureza invertesse este cenário, mas uma grande descarga de granizo põe-nos ainda mais nervosos e apreensivos, vou comentando com o Telmo isto vai ter que ser cancelado já assim tinha sido há três anos atrás por razões idênticas.
Agora a
preocupação era proteger o saco cama e mochila, a tenda que é composta por um
pano muito grosso começa a deixar passar a água e se encharca-se o saco cama
não podia-mos resistir a mais uma noite fria, mas horas depois esta frente fria
passa e abre o céu, é hora de limpar a casa e secar todo o material, é incrível
como o tempo muda tão rápido nestes locais, o dia que devia de ser de descanso,
tentar hidratar e alimentar para recuperar alguma coisa acabou por ser tudo
menos isso, valeu-me no fim dessa tarde conseguir comer uma massa liofilizada
(400 calorias) e o meu estômago não rejeitar, mas como iria eu correr mais uma
maratona no dia seguinte nestas condições, (interrogava-me volta e meia).
Continua....
Desejoso de continuar a ler a sua participação na mítica prova... :)
ResponderExcluirCumprimentos
E boas corridas
muito bom Carlos,continue...
ResponderExcluirObrigada por partilhar :)
ResponderExcluirParabéns Campeão!! Os tugas marcaram a diferença.
ResponderExcluirAbc
VV
Obrigado pela partilha da grande aventura, venham os próximos capitulos
ResponderExcluirQuero lêr resto. Grande aventura.
ResponderExcluirohhh acabou estava a gostar tanto ve se continuas agora que estou tão curioso para saber o resto da historia Abraço Campeão
ResponderExcluirPara mim é um prazer ler a tua narrativa, e com isso aprender muita coisa !.. parabéns Carlos Sá ,espero que publiques o resto !.. o meu muito obrigado por te ter como amigo!.. força para a próxima.
ResponderExcluir